E o primeiro disse: "Foi inusitado perceber o que ela sentia por mim. Estranho receber aquelas poesias como declaração. Eu não disse nada, eu não queria dizer nada, eu não precisava dizer nada. Eu apenas ignorei tudo aquilo por nunca poder olhá-la daquela forma. Eu imagino que ela tenha sofrido, mas não há nada que eu pudesse fazer. Eu mal a conhecia. E eu não tinha essa obrigação. Hoje?Não me lembro mais dela, e não me interessa saber se ela se lembra de mim."
E o terceiro disse: "Não havia nada mais a ser dito, mas, mesmo assim ela esperava uma resposta. Todos os dias, ela olhava para mim e eu não a via, eu não lembrava mais que ela existia. Continuo não me lembrando mais. Mas ela me dava apenas um pouco mais de importância do que eu dava. Só que eu não dava nenhuma. Ela gostava de mim e poderia ter gostado muito mais se eu tivesse gostado dela também, e se conseguisse gostar só dela. Esse é o meu jeito de viver, de seguir e sentir os momentos que são passageiros, são brisas de flor ou brisa que traz o cheiro de esgoto."
E o segundo disse: "Eu a amei de uma forma que nunca soube explicar. Difícil entender como aquela aparente arrogância pôde me seduzir. Eu tive certo receio de falar qualquer coisa, até mesmo de me aproximar. Não sabia como ela reagiria, não sabia o que ela me diria, não queria lidar com a rejeição. Quando cruzei com ela e, em um ímpeto de loucura, decidi chamá-la, começamos a conversar e eu tentava não revelar nada, mas ela já tinha entendido e me conduzia a dizer. Então eu disse, querendo fechar os olhos e tapar meus ouvidos para o 'Não' que esperava dela. Mas ela me disse que sim, e em um dia qualquer para ela - que foi um dia que nunca esqueci - eu a tive por meio tempo. Sem que eu pudesse esperar, ela simplesmente me afastou e eu não soube o que dizer, o que fazer. Achava que tinha feito algo errado, mas ela disse que não. Eu não sabia que era porque ela amava outro. Mas ela me disse que nunca mais poderíamos ter nada. Eu a amei, e não sei se algum dia poderei esquecê-la."
E o quarto disse: "Eu a conheci em um show meu, a vi lá de cima do palco e não conseguia parar de olhá-la. Ela estava com algumas pessoas que conhecia, então aproveitei para falar com ela. Ela nem se lembrava de mim quando a vi de novo, e nem imaginava que a veria de novo. Mas eu me lembrava dela e eu a queria da mesma forma que naquela dia. Quando começamos a nos aproximar, ver-nos quase todo dia, meu peito se encheu de prazer e bem estar, eu não poderia estar mais feliz, mesmo que ela me dissesse repetidas vezes que estava em um relacionamento complicado. Ela sabia o que eu sentia, as minhas indiretas haviam sido bem diretas e eu sabia disso. O dia em que ela saiu daquele relacionamento complicado e se abriu para mim foi realmente marcante, nada poderia ser melhor naquele momento. Nada poderia ser melhor do que aqueles dias, poucos dias, que tive com ela. Poucos. Porque ela me disse que não poderíamos ter mais nada, que ela não conseguia sentir nada por mim. Perguntei dos meus erros, se poderia corrigi-los, mas ela disse que o melhor era realmente sermos amigos. Amigos. Todo mundo sabe onde isso termina. Cada um em seu canto, sem nunca mais nos vermos, sem nunca mais nos falarmos. Sem nunca mais. Eu gostava dela e eu poderia ter dado tudo aquilo que ela sonha, tudo que deseja no homem que estiver do seu lado. Mas ela não gostava de mim, ela simplesmente não conseguia, não podia. Ela não queria me enganar nem se enganar. E, mesmo com o tempo que já passou, ainda guardo uma certa inconformidade com isso. Não queria perdê-la."
E o enésimo, o ser desconhecido, disse: "Não, não a conheço ainda. Ou talvez sim. Eu não a percebi ainda, ela ainda não me percebeu. Talvez o momento de nos encontrarmos demore. Mas eu espero por ela, espero que ela goste de mim assim como sei que vou gostar dela. Espero que ninguém a impeça de chegar até mim. Espero que ela não desista no meio do caminho, porque não desistirei dela. Enquanto não estiver com ela, não vou me satisfazer. Talvez ela possa conseguir viver feliz sem mim, mas eu não consigo. Eu tenho tudo o que ela pode esperar de mim. Não sou convencido, apenas sei disso. Sei ser paciente, mas espero todos os dias que ela não demore."
Ela disse, então: "As minhas falas começam com o não. O 'não amo ninguém', 'não quero ninguém agora', 'não quero correr o risco de sofrer de novo'. Reconheço a minha estupidez, todo esse tempo, quando poderia ter sido feliz e não fui. Eu só não conseguiria me forçar a amar ninguém. Sou do tipo que ama demais, mas não escolho quem amo, apenas escolho quem não amo... vez ou outra. Tenho estado bem assim, aprendi a lidar com o fato de estar sozinha e não deposito mais a minha felicidade em ninguém. Aos poucos, eu a tenho conquistado sem precisar de ajuda. Mas é inevitável. Em um momento de uma noite inesperada, quando ninguém parece estar ali para me escutar, eu sinto falta do abraço que me conforte, que me traga um pouco de paz e de amor. Poderiam dizer que tudo isso foi minha culpa, por muito tempo me culpei por cada detalhe, cada acontecimento. Mas aprendi que a vida segue o seu curso, eu apenas tenho que deixá-la seguir e seguir."